Introdução



O reconhecimento da infância e da adolescência como etapas da vida se deu após movimentos religiosos e culturais, nos séculos XVII e XVIII, como o Iluminismo e o Protestantismo. Estes abriram caminhos primeiramente ao descobrimento da infância. Antes disso as crianças eram consideradas mini - adultos. A diminuição da mortalidade infantil, a preocupação com a mesma, a extensão do ensino obrigatório até idades mais elevadas, o excesso de mão de obra adulta que requerem menos mão de obra e mais força de trabalhos especializados, contribuiu para o nascimento da adolescência como etapa da vida diferenciada da infância e da fase adulta. Dessa forma nasce a adolescência, a partir de interesses econômicos. (PALACIOS, s/d)

   Mesmo antes do reconhecimento da adolescência, estudiosos já notavam as diferenças físicas e mentais que o individuo enfrenta nessa fase. Ao falar de adolescência, muitas idéias e tabus acerca das pessoas que vivem essa etapa da vida vêm à mente. Essa fase trata-se de um período da vida onde o individuo sofre alterações físicas e mentais além de outras características, denominadas por Maurício Knobel em sua obra “Adolescência Normal” de Síndrome Normal da Adolescência. Knobel ainda descreve algumas sintomatologias dessa síndrome que seriam: Busca de si mesmo e da identidade; Tendência grupal; Necessidade de intelectualizar e fantasiar; Crises religiosas que podem ir desde o ateísmo até o misticismo mais fervoroso; Deslocação temporal; Evolução sexual; Atitude social reivindicadora com tendências anti ou associais de diversas intensidades; Contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta; Separação progressiva dos pais; Constantes flutuações do humor e do estado de ânimo (KNOBEL, 1992). Destas sintomatologias falaremos aqui da Tendência Grupal.
Uma breve abordagem do conceito de “grupo” é importante para compreendermos a ligação entre adolescência e grupo. O termo grupo refere-se a dois ou mais indivíduos que se reúnem com interesses comuns, que se caracterizam como grupos formais e informais. De aco­­rdo com o Dicionário de Sociologia – Adolescência é o estágio no curso da vida que separa a infância da vida adulta. Trata-se de um fenômeno relativamente recente, datando de fins do século XIX e encontrado sobre tudo nas sociedades industriais. Quanto a grupo, é um sistema social que envolve interação regular entre seus membros e uma identidade coletiva comum. Isso significa que o grupo tem um senso de “nós” que permite que seus membros se considerem como pertencendo a uma entidade separada. Diante ao exposto, adolescência e grupo são dois fenômenos que se encontram quase que inevitavelmente, considerando a necessidade do adolescente de pertencer a um grupo.

     O fenômeno grupal adquire uma importância transcendental, já que se transfere ao grupo grande parte da dependência que anteriormente se mantinha com a estrutura familiar e com os pais especialmente.  O grupo constitui assim a transição necessária no mundo externo para alcançar a individualização adulta. O grupo resulta útil para as dissociações, projeções e identificações que seguem ocorrendo no indivíduo, mas com características que diferem das infantis. Depois de passar pela experiência grupal, o indivíduo poderá começar a separar-se da turma e assumir a sua identidade adulta. Quando durante este período da vida o indivíduo sofre um fracasso de personificação, produto da necessidade de deixar rapidamente os atributos infantis e assumir uma quantidade de obrigações e responsabilidades para as quais ainda não está preparado recorre ao grupo como reforço para sua identidade.

Na adolescência o individuo busca, como defesa, uniformidade que o proporciona segurança e estima pessoal, ou seja, ele recorre a determinado grupo e passa a se comportar, se vestir, andar, falar, etc.; de acordo com este por necessidade de identificação fora do ambiente familiar. Há um processo de super identificação em massa, onde todos se identificam com cada um. A partir de então surge o espírito de grupo. A ligação com o grupo passa a ser tão forte - mais do que a relação com a família - que a possibilidade de desligamento dele é impossível e o adolescente se inclina às regras do mesmo, em relação ao estilo de vida e de comportamento. No grupo, o indivíduo adolescente encontra um reforço muito necessário para os aspectos mutáveis do ego que se produzem neste período da vida. Essa integração com o grupo representa a oposição às figuras parentais e uma maneira de determinar uma identidade fora do meio familiar, e essa transcendência da dependência do grupo, que anteriormente era com a estrutura familiar, é de grande importância, pois o individuo constitui no grupo a transição necessária para o mundo exterior, alcançando assim a individualização adulta (KNOBEL, 1992).

     A tendência grupal é importante, considerando que este grupo ao qual o adolescente irá pertencer será necessário para trabalhar os seus anseios e enfrentamentos que serão fundamentais para seu processo evolutivo. Estas vivências darão ao adolescente uma dimensão de tempo e espaço para resolução dos problemas e reflexão devido as instabilidade que se apresentam nesta fase da vida. O grupo irá contribuir no relacionamento com o sexo oposto proporcionando uma mudança de comportamento, muitas vezes iniciando o amadurecimento da sua condição sexual. Este pertencimento a um grupo proporciona ao adolescente lidar com varias situações que irá lhe permitir transitar em terrenos ainda não explorados como lidar com a sexualidade, com o outro e entender melhor as suas questões pessoais.

    Para exemplificar o que falamos até aqui usaremos o filme “Aos treze”, dirigido por Catherine Hardwicke que conta a história de Ana. Uma adolescente inteligente e aluna brilhante, que possui um bom convívio familiar, com seus professores e amigos. Ao tornar-se amiga da garota mais popular da escola, Ellen , Ana é apresentada às drogas, ao sexo e a mutilação. Ana logo passa a se comportar diferente com seus professores, amigos anteriores e principalmente com a família, em especial com a mãe. Logo que Ana ingressa nesse grupo seu comportamento em publico é alterado, suas roupas e costumes também vão se modificando de acordo com o da nova amiga Ellen, o que se explica pelo que já comentamos acerca da uniformidade, que proporciona a ela segurança e autoestima elevado.

“A tendência grupal é necessária para construir uma nova identidade para o adolescente, tornando-o independente da família. Assim, o grupo oferecendo segurança e auto-estima funcionaria como uma ponte entre a família e o laço social. Para tanto, o adolescente rompe esses vínculos e parte na busca de si, junto com outros que vivenciam o mesmo processo longe da família, a fim de perceber-se sem influências parentais.” (ARAÚJO, 2007)







Nenhum comentário:

Postar um comentário